27 de dezembro de 2009



"artista guerrilheiro" Banksy
Sei que às vezes essa coisa de só poesia também é muito chato ... mas não resisto a facilidade com que elas traduzem momentos ... coisa que eu definitivamente não tenho talento para fazer. Nova fase se inicia embora me nego a deixar de posta-las ...
Vem comigo ......

http://www.banksy.co.uk/

Dá-me a tua mão


Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.
De como entrei
naquilo que existe entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.
Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.

Clarice Lispector

12 de dezembro de 2009

Tempo


                     (foto Andre Kertesz)                                            
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

Mário Quintana

7 de dezembro de 2009

De ver que viver não tem cura


 (where is love?)

Leite, leitura
letras, literatura,
tudo o que passa,
tudo o que dura
tudo o que duramente passa
tudo o que passageiramente dura
tudo,tudo,tudo
não passa de caricatura
de você, minha amargura
de ver que viver não tem cura

Paulo Leminski

23 de novembro de 2009

As vezes fechamos os olhos e nos entregamos a sorte ..........


As vezes fechamos os olhos e nos entregamos a sorte ..........
Pensando em escolhas ... fazemos de tudo para escolhermos um caminho de forma mais ou menos consciente, mais ou menos influenciada por algo que não nós ... e de repente notamos que estamos num outro caminho e que não é possível regressar à encruzilhada onde optámos porque o tempo a dissolveu...
Lugares perigosos, as encruzilhadas.
Nas encruzilhadas não se pode ficar parado e lá é onde os deuses repousam. Por isso às vezes fechamos os olhos e entregamos os pés à sorte...
O tempo separa as pessoas muito mais do que o espaço porque o espaço é solúvel e o tempo não.
E agora, o que fazer com as horas?
As antigas certezas não são assim tão certas e já não servem para nada. O aqui e agora está sempre a mudar e o prazer não se consome.
Até quando desaparecem, as pessoas desaparecem para algum lado. Mesmo as que não têm para onde ir...
E há aquelas que fogem e deixam partes de si para trás, partes que se atrasam de propósito e demoram a chegar. E de repente dão por si no hall de entrada de um mundo que nem chegam a reconhecer.
Devia ser possível guardar o prazer em cofres dos quais só nós conhecemos a combinação, em gavetas secretas que mais ninguém sabe onde ficam...
Em caixas bem seladas que só nós sabemos abrir, e que prometemos só abrir quando desejarmos mesmo voltar a sentir o prazer...
E nunca deixar que ele ande solto por aí, ainda que ele não se consuma !!



20 de outubro de 2009

12 de outubro de 2009

O essencial é invisível para os olhos



 Antoine de Saint-Exupéry, 1943
“O essencial é invisível para os olhos”

Porque hoje é dia das crianças ... e somente a simplicidade e a naturalidade delas podem nos mostrar como precisamos de uma profunda mudança de valores...
Com o tempo nos perdemos de nossos valores mais importantes, nos equivocamos na avaliação das coisas e das pessoas que nos rodeiam e descobrimos como esses julgamentos nos levam à solidão. Nós nos entregamos as nossas preocupações diárias, nos tornamos adultos de forma definitiva e esquecemos a criança que fomos um dia ...
Por isso coloquei uma passagem do livro ... a que eu mais gosto claro ...
“E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira…
- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita…
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste…
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. não me cativaram ainda.
- Ah! desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer “cativar”?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa “criar laços…”
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo…
- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor… eu creio que ela me cativou…
- É possível, disse a raposa. -
Mas a raposa voltou à sua idéia.
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.
O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo…
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor… cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto…
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração… É preciso ritos.
- Que é um rito? perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!
Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse…
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.
- Vou, disse a raposa.
- Então, não sais lucrando nada!
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.
Foi o principezinho rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela é agora única no mundo.
E as rosas estavam desapontadas.
- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele…
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
-O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa… repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa…
- Eu sou responsável pela minha rosa… repetiu o principezinho, a fim de se lembrar”.

4 de outubro de 2009

O Primeiro Dia



A principio é simples, anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no borborinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado, que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso, por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar, sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vazia
nasce um novo dia e no braço outra asarinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.

(Sergio Godinho)

19 de setembro de 2009

Não há mapa. Há instinto...


Em que sítio do labirinto começa o caminho?
Quantas voltas podemos dar, passando pelo mesmo corredor?
Perseguimos ou somos perseguidos?
A saída do labirinto é a porta por onde entramos?
O labirinto pode ser um círculo vicioso, pode ser o circuito da aprendizagem,
pode prender-nos a vida inteira.
Não há mapa. Há instinto...

4 de setembro de 2009

Livro novo

Abstrato como minha vida no momento ...... um presente lindo, assim como a vida !!!
Wassily Kandinsky, (1866 — 1944) foi um artista russo, professor da Bauhaus e introdutor da abstração no campo das artes visuais.

3 de setembro de 2009

Antídoto

Gustav Klimt "O Beijo" (1907/08)

Como o sangue, corremos dentro dos corpos no momento em que abismos os puxam e devoram. Atravessamos cada ramo das árvores interiores que crescem do peito e se estendem pelos braços, pelas pernas, pelos olhares. As raízes agarram-se ao coração e nós cobrimos cada dedo fino dessas raízes que se fecham e apertam e esmagam essa pedra de fogo. Como sangue, somos lágrimas. Como sangue, existimos dentro dos gestos. As palavras são, tantas vezes, feitas daquilo que significamos. E somos o vento, os caminhos do vento sobre os rostos. O vento dentro da escuridão como o único objecto que pode ser tocado. Debaixo da pele, envolvemos as memórias, as ideias, a esperança e o desencanto.

Antídoto, José Luís Peixoto

24 de agosto de 2009


Quem escreve quer ser lido... mas sinceramente isso é apavorante! Por isso vou seguir um conselho, começar devagar... para ir tomando gosto, criando segurança e ir descobrindo que esse tempo será muito mais importante para quem está escrevendo do que para quem lê...
3 R's ... sabe para que eles servem??? Vou dizer ...
Para gente reaprender...
Para gente recomeçar ...
Para gente refazer ... enfim Reutilizar, Reciclar, Reduzir ...
Porque mais importante que saber o que eles significam é saber como fazer com que eles entrem na nossa vida diária, nas nossas atitudes em relação ao mundo e aos outros seres...

26 de março de 2009

Primeiro Post

"Porque sensibilidade é essecial ..."

World Builder é um curta premiado, criado pelo cineasta Bruce Branit e que conta a história de um sujeito que construiu um mundo virtual para sua amada. O filme levou um dia para ser filmado e dois anos de pós-produção.