29 de novembro de 2010

até nos silêncios

Viajo por que preciso ... volto porque te amo !
 Essa frase ... aliás o nome de um filme nacional ... me tocou profundamente e só arrematou algumas idéias que andavam bailando na minha cabeça já há algum tempo.
Volto porque "te amo" é a demonstração mais sincera do que se aproxima do amor real ...
Porque se formos analisando a vida e as pessoas ... são gestos generosos que nos constroem amáveis. Assim consigo entender porque amo minha mãe. Nela percebi o gesto mais generoso que alguém pode ter em toda vida ... emprestar o corpo e a propria vida para gerar outra vida !!! Não tenho como não ama-la ... ela é generosa com a vida, porque me colocou no mundo não esperando algo em troca ... simplesmente me deixou nascer para "ser"...
Amo meu pai porque anos a fio ele me deu tudo e continua dando o que um ser humano dentro das suas possibilidades pode dar para o outro ... sem pedir nada em troca ...
Amo profundamente alguns dos meus amigos ... porque em muitas situações eles foram tão generosos comigo ... em gestos ... atitudes ... delicadeza e até silêncios e nunca me pediram nada em troca e nem reclamam de mim ...
Amo meus sobrinhos ... porque eles me dão um carinho alegre e tão gratuito que nao consigo entender nem porque me amam ...
Enfim ......... pra justificar toda essa colocação em relação ao "Viajo por que preciso ... volto porque te amo"  consegui entender que essa frase é a tradução do que é o amor ... viajar é necessário para gente "ser" ... mas voltar por amor ... também é !!!

16 de novembro de 2010

a raça dos desassossegados

À raça dos desassossegados pertencemos todos, negros e brancos, ricos e pobres, jovens e velhos, desde que tenhamos como característica desta raça comum, a inquietação que nos torna insuportavelmente exigentes com a gente mesmo e a ambição de vencer não os jogos, mas o tempo, este adversário implacável. Desassossegados do mundo correm atrás da felicidade possível, e uma vez alcançado seu quinhão, não sossegam: saem atrás da felicidade improvável, aquela que se promete constante, aquela que ninguém nunca viu, e por isso sua raridade. Desassossegados amam com atropelo, cultivam fantasias irreais de amores sublimes, fartos e eternos, são sabidamente apressados, cheios de ânsias e desejos, amam muito mais do que necessitam e recebem menos amor do que planejavam. Desassossegados pensam acordados e dormindo, pensam falando e escutando, pensam ao concordar e, quando discordam, pensam que pensam melhor, e pensam com clareza uns dias e com a mente turva em outros, e pensam tanto que pensam que descansam. Desassossegados não podem mais ver o telejornal que choram, não podem sair mais às ruas que temem, não podem aceitar tanta gente crua habitando os topos das pirâmides e tanta gente cozida em filas, em madrugadas e no silêncio dos bueiros. Desassossegados vestem-se de qualquer jeito, arrancam a pele dos dedos com os dentes, homens e mulheres soterrados, cavando uma abertura, tentando abrir uma janela emperrada, inventando uns desafios diferentes para sentir sua vida empurrada, desassossegados voltados pra frente. Desassossegados desconfiam de si mesmos, se acusam e se defendem, contradizem-se, são fáceis e difíceis, acatam e desrespeitam as leis e seus próprios conceitos, tumultuados e irresistíveis seres que latejam. Desassossegados têm insônia e são gentis, lhes incomodam as verdades imutáveis, riem quando bebem, não enjoam, mas ficam tontos com tanta idéia solta, com tamanha esquizofrenia, não se acomodam em rede, leito, lamentam a falta que faz uma paz inconsciente.
Desta raça somos todos, eu sou, só sossego quando me aceito.

Fernando Pessoa

3 de novembro de 2010

o azul não me cansa

Olho o céu com paciência. O azul não me cansa.
Uma ave voando não significa que está partindo.
Uma ave voando pode estar regressando.

Fabício Carpinejar